Redes no Céu e Armadilhas no Chão : instabilidade, desenvolvimento e repressão na Região Autônoma Uigur de Xinjiang
A República Popular da China é um Estado multiétnico formado por 56 grupos étnicos, dos quais os uigures – uma etnia de origem turca, quase sua totalidade muçulmana, e composta de maioria agricultores, pequenos comerciantes e artesãos – representam pouco menos de 1% da população total. Apesar de...
Main Author: | Vieira, Victor Carneiro Corrêa |
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Other Authors: | Oliveira, Marcos Aurélio Guedes de |
Format: | Tese |
Language: | pt_BR |
Published: |
2022
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Subjects: | |
Online Access: |
http://bdex.eb.mil.br/jspui/handle/123456789/10030 |
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Summary: |
A República Popular da China é um Estado multiétnico formado por 56 grupos étnicos, dos
quais os uigures – uma etnia de origem turca, quase sua totalidade muçulmana, e composta de
maioria agricultores, pequenos comerciantes e artesãos – representam pouco menos de 1% da
população total. Apesar de minoritários na China, uigures são a etnia majoritária da Região
Autônoma Uigur de Xinjiang, localizada na fronteira Noroeste com a Ásia Central, uma região
rica em recursos naturais e energéticos, considerada estratégica para o desenvolvimento
econômico chinês e para a comércio com os vizinhos a Oeste. Desde a anexação de território
que hoje comporta Xinjiang à China, em 1759, as relações entre uigures e hans, a etnia
majoritária da China, tem passado por períodos de tensão e distensão, alimentando um temor
de secessão territorial no governo central, que responde com políticas voltadas para o
desenvolvimento econômico e com repressão a manifestações de insatisfação uigur. Partindo
do marco temporal de 1990 a 2020, esta tese estuda a institucionalização de políticas voltadas
para o desenvolvimento econômico na China enquanto estratégias para a manutenção da
estabilidade social, assim como o emprego de instrumentos repressivos como resposta à atuação
de grupos radicais provenientes da minoria étnica uigur. O argumento central se apresenta na
assertiva de que esses dois movimentos combinados – as políticas de desenvolvimento
econômico e a repressão aos grupos considerados radicalizados – têm por objetivo promover
uma engenharia humana capaz de difundir a ideologia do Partido Comunista da China (PCCh)
e conformar a população uigur com um padrão de comportamento das sociedades industriais
avançadas, fundado na exaltação da modernização, da eficiência, da produtividade e da técnica,
abandonando elementos da sua cultura, língua, tradição e religião, em nome de um processo de
“sinicização” das minorias étnicas. Para compreender como lideranças do PCCh mobilizam o
conceito de desenvolvimento na elaboração da ideologia que possibilita a legitimação do
regime junto à população, assim como a forma com que o Governo estabelece elementos da
cultura uigur e da religião muçulmana como sinais de radicalização – sendo passíveis de
repressão –, a pesquisa combinará teoria e empiria, utilizando o método da análise crítica do
discurso, em documentos e discursos formulados pelo PCCh, selecionados pelo autor, e
estudará campanhas e políticas destinadas à Xinjiang no período, tais como a “Repressão severa
a atividades criminosas graves”, de 1996; o “Desenvolvimento do Grande Oeste”, de 1999; os
dois Fóruns Centrais de Trabalho de Xinjiang, de 2010 e 2014; a “Guerra do Povo Contra o
Terrorismo e pela Manutenção da Estabilidade”, de 2014; e os centros de educação e
treinamento vocacional. ___________________________________________________________________________________________ ABSTRACT The People’s Republic of China is a multi-ethnic state formed by 56 ethnic groups, of which
the Uyghurs – an ethnicity of Turkish origin, almost entirely Muslim, and most of them farmers,
small traders, and artisans – represent just under 1% of the population total. Despite being a
minority in China, Uyghurs represent most of the population in the Xinjiang Uyghur
Autonomous Region, located on China’s Northwest border with Central Asia, a region rich in
natural and energy resources, considered strategic for Chinese economic development and its
trade with neighbors to the West. Since its annexation in 1759, relations between Uyghurs and
Hans, the majority ethnic group in China, have gone through periods of tension and distension,
fueling fear of territorial secession in the central Government, which responds with policies
aimed at economic development and with repression of manifestations of Uyghur
dissatisfaction. Starting from the period between 1990 and 2020, this thesis studies the
institutionalization of policies aimed at economic development in China as strategies for
maintaining social stability and the use of repressive instruments to respond to the action of
radical groups from the ethnic minority Uyghur. The central argument presented is that these
the two combined movements – economic development policies and the repression of groups
considered to be radicalized – aim to promote a human engineering process capable of
spreading the Communist Party of China’s (CPC) ideology and conforming the Uyghur
population with a pattern of behavior of advanced industrial societies, based on modernization,
efficiency, productivity and technique, and abandoning elements of their culture, language,
tradition, and religion, in favor of a process of “synicization” of ethnic minorities. To
understand how CPC leaders mobilize the concept of development in the elaboration of the
ideology that enables the legitimacy of the regime with the population, as well as the way in
which the Government establishes elements of the Uyghur culture and the Muslim religion as
signs of radicalization - being susceptible to repression – the research will combine theory and
empirical, using the method of critical discourse analysis, in documents and speeches
formulated by the CPC, selected by the author, and will study campaigns and policies aimed at
Xinjiang in the period, such as the “Strike Hard against Serious Criminals Activity” of 1996;
the 1999 “Great West Development”; the two Xinjiang Central Work Forums of 2010 and 2014;
the “People’s War on Terrorism and the Maintenance of Stability” of 2014; and the vocational
education and training centers. |
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