A vida das mulheres infames: genealogia da moral de mulheres usuárias de drogas e/ou em situação de rua
A presente tese investigou o acolhimento institucional de bebês de mães que relatam fazer uso de substâncias psicoativas e/ou estão em situação de rua em Belo Horizonte/MG e no Estado de São Paulo. Trata-se de um fenômeno recente e ainda sem estudos científicos prévios, caracterizando-se, portanto,...
Main Author: | ROSATO, Cássia Maria |
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Other Authors: | OLIVEIRA FILHO, Pedro de |
Format: | doctoralThesis |
Language: | por |
Published: |
Universidade Federal de Pernambuco
2019
|
Subjects: | |
Online Access: |
https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/33459 |
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ir-123456789-334592019-09-21T05:05:12Z A vida das mulheres infames: genealogia da moral de mulheres usuárias de drogas e/ou em situação de rua ROSATO, Cássia Maria OLIVEIRA FILHO, Pedro de http://lattes.cnpq.br/6024677964043286 http://lattes.cnpq.br/2268597352863613 Psicologia Biopolítica Mulheres – Uso de drogas Maternidade Infância A presente tese investigou o acolhimento institucional de bebês de mães que relatam fazer uso de substâncias psicoativas e/ou estão em situação de rua em Belo Horizonte/MG e no Estado de São Paulo. Trata-se de um fenômeno recente e ainda sem estudos científicos prévios, caracterizando-se, portanto, como uma pesquisa qualitativa e exploratória. O desenho metodológico constituiu-se pela análise de documentos públicos sobre o assunto e a realização de entrevistas com profissionais que acompanharam casos concretos de mulheres que não puderam exercer a maternidade por estar nessas condições de vulnerabilidade. Objetivamos identificar os mecanismos, as estratégias e os contextos que ensejaram a adoção desse tipo de prática, procurando descrever e problematizar as correlações de força que têm permitido a emergência desse tipo de experiência de exceção. Também visamos compreender os processos psicossociais e jurídicos pelos quais essa conduta se institucionaliza. Do ponto de vista teórico, as obras de Michel Foucault e Giorgio Agamben colaboraram na análise dos dados produzidos, especialmente os conceitos de biopolítica, governamentalidade e estado de exceção para entender as relações de poder, os jogos de produção de verdade e o exercício do poder soberano nessas práticas. Buscamos destacar o que tem ocorrido, os modos como têm se dado esse acolhimento institucional dito compulsório e os porquês desse tipo de prática. Os principais achados indicam que essas ações de controle dos corpos de mulheres e seus bebês possui um grau de seletividade, na medida em que apenas uma determinada população vulnerável tem vivenciado essa separação familiar abrupta. São situações limítrofes e extremas, gerando intenso sofrimento para essas mães, mas também para as equipes que acompanham o abrigamento dos bebês. A lógica da disciplina se faz presente, na tentativa de instituir condutas profissionais de quem faz o atendimento direto dessas mulheres. Ao mesmo tempo, contracondutas e práticas de resistência são produzidas, questionando as imposições feitas. A judicialização dos casos dificulta a vida das famílias; os vínculos afetivos não se consolidam e a ausência de orientação jurídica compromete o direito à defesa dessas mães. Em relação aos porquês, a suposta proteção dos bebês tem sido uma das principais justificativas, por considerarem que existe uma situação de risco. Tendo em vista que nada ainda aconteceu em termos de concretização do risco, trata-se de algo presumido, sendo o histórico de vida dessas mulheres suficiente para determinar o abrigamento. A racionalidade específica que tem sustentado essas práticas encontra-se revestida de questões morais e temas ainda considerados tabus em nossa sociedade. Compreendemos que o acolhimento institucional, nesse contexto, caracteriza-se como uma violação de direitos dos bebês e desuas mães. Essa investigação permite a construção de novos posicionamentos e práticas no que diz respeito às noções de cuidado e tratamento de mulheres em condições de vulnerabilidade e seus bebês. Essa pesquisa também pode subsidiar o trabalho de profissionais que lidam com essa temática, contribuindo para a construção de reflexões acerca de como tal prática tem se instituído. Isso significa a qualificação dos trabalhos realizados junto às famílias, especialmente mulheres, que têm vivenciado tais arbitrariedades. The institutional sheltering of babies whose mothers are psychoactive drug consumers or are homeless in the city of Belo Horizonte and in the Sao Paulo state was investigated. It is a recent problem with no previous scientific studies and the present work is therefore a qualitative and exploratory survey. The methodology comprised the analysis of public documents and interviews with professionals which followed cases of women that could not exert motherhood because of the vulnerability situation. Identification the mechanisms, the strategies and the context that allowed this practice and seeking to describe the forces that permitted the emergence of this type of experience was our goal. Also we attempted to understand the psychosocial and legal processes taken by the sheltering institution. To analyze the data, the works of Michel Foucault and Giorgio Agamben were employed, mainly the biopolitics, governability and state of exception concepts to understand the power relations, the true production play and the exercise of sovereign power in these practices. We emphasize what has been occurred, how this institutional sheltering called compulsory has been carried out and the reasons of this type of practice. The major findings indicate that the actions of controlling the women body and their babies posses a degree of selectivity as only part of a certain vulnerable population experience an abrupt familiar split. These situations are extremes, generating intense suffering to the mothers as well for the team that are in charge of the babies. We verified that the logic of discipline is made present in an attempt to introduce professional guidance to perform the direct attendance of these women. At the same time, drawbacks and resistance practices are produced questioning the impositions made. The legalization of the cases brings difficulties to the families: the bondages are not consolidated and the lack of legal guidance compromises the defense right of these women. Related to the “why”, the presumed baby protection has been one the major justification since there is a risk situation. Considering that nothing really happened it is something assumed and the background of these women are sufficient to determine the sheltering. The specific rational sustaining these practices includes moral issues and themes considered taboos in our society. We understand that the institutional sheltering with these characteristics is a violation of children’s and women’s rights. The present investigation permits the construction of new positioning and practices in respect of women care in vulnerability conditions and their babies. Also it can subsidize professionals in this area contributing for the reflections about how this conduct has been institutionalized. These attitudes could stand for the qualifications of the work with the families, specially women that experience such arbitrariness. 2019-09-20T21:05:52Z 2019-09-20T21:05:52Z 2018-12-17 doctoralThesis https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/33459 por openAccess Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazil http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/ Universidade Federal de Pernambuco UFPE Brasil Programa de Pos Graduacao em Psicologia |
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Psicologia Biopolítica Mulheres – Uso de drogas Maternidade Infância |
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A presente tese investigou o acolhimento institucional de bebês de mães que relatam fazer uso de substâncias psicoativas e/ou estão em situação de rua em Belo Horizonte/MG e no Estado de São Paulo. Trata-se de um fenômeno recente e ainda sem estudos científicos prévios, caracterizando-se, portanto, como uma pesquisa qualitativa e exploratória. O desenho metodológico constituiu-se pela análise de documentos públicos sobre o assunto e a realização de entrevistas com profissionais que acompanharam casos concretos de mulheres que não puderam exercer a maternidade por estar nessas condições de vulnerabilidade. Objetivamos identificar os mecanismos, as estratégias e os contextos que ensejaram a adoção desse tipo de prática, procurando descrever e problematizar as correlações de força que têm permitido a emergência desse tipo de experiência de exceção. Também visamos compreender os processos psicossociais e jurídicos pelos quais essa conduta se institucionaliza. Do ponto de vista teórico, as obras de Michel Foucault e Giorgio Agamben colaboraram na análise dos dados produzidos, especialmente os conceitos de biopolítica, governamentalidade e estado de exceção para entender as relações de poder, os jogos de produção de verdade e o exercício do poder soberano nessas práticas. Buscamos destacar o que tem ocorrido, os modos como têm se dado esse acolhimento institucional dito compulsório e os porquês desse tipo de prática. Os principais achados indicam que essas ações de controle dos corpos de mulheres e seus bebês possui um grau de seletividade, na medida em que apenas uma determinada população vulnerável tem vivenciado essa separação familiar abrupta. São situações limítrofes e extremas, gerando intenso sofrimento para essas mães, mas também para as equipes que acompanham o abrigamento dos bebês. A lógica da disciplina se faz presente, na tentativa de instituir condutas profissionais de quem faz o atendimento direto dessas mulheres. Ao mesmo tempo, contracondutas e práticas de resistência são produzidas, questionando as imposições feitas. A judicialização dos casos dificulta a vida das famílias; os vínculos afetivos não se consolidam e a ausência de orientação jurídica compromete o direito à defesa dessas mães. Em relação aos porquês, a suposta proteção dos bebês tem sido uma das principais justificativas, por considerarem que existe uma situação de risco. Tendo em vista que nada ainda aconteceu em termos de concretização do risco, trata-se de algo presumido, sendo o histórico de vida dessas mulheres suficiente para determinar o abrigamento. A racionalidade específica que tem sustentado essas práticas encontra-se revestida de questões morais e temas ainda considerados tabus em nossa sociedade. Compreendemos que o acolhimento institucional, nesse contexto, caracteriza-se como uma violação de direitos dos bebês e desuas mães. Essa investigação permite a construção de novos posicionamentos e práticas no que diz respeito às noções de cuidado e tratamento de mulheres em condições de vulnerabilidade e seus bebês. Essa pesquisa também pode subsidiar o trabalho de profissionais que lidam com essa temática, contribuindo para a construção de reflexões acerca de como tal prática tem se instituído. Isso significa a qualificação dos trabalhos realizados junto às famílias, especialmente mulheres, que têm vivenciado tais arbitrariedades. |
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