O conto das quatro mil almas : uma etnografia do confronto de Indígenas e Quilombolas com a Central Nuclear do Nordeste

O presente trabalho busca problematizar o campo sociopolítico em que se dá a instalação da Central Nuclear do Nordeste em Itacuruba, Sertão de Pernambuco – Brasil. Nossa análise considera o lugar que os povos tradicionais ocupam nessa arena de conflitos socioambientais, já que estes, reconhecidos co...

Full description

Main Author: SILVA, Whodson Robson da
Other Authors: FIALHO, Vânia
Format: masterThesis
Language: por
Published: Universidade Federal de Pernambuco 2020
Subjects:
Online Access: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/37614
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Summary: O presente trabalho busca problematizar o campo sociopolítico em que se dá a instalação da Central Nuclear do Nordeste em Itacuruba, Sertão de Pernambuco – Brasil. Nossa análise considera o lugar que os povos tradicionais ocupam nessa arena de conflitos socioambientais, já que estes, reconhecidos como grupos étnicos, dispõem de instrumentos normativos, regulatórios e recomendatórios que impõem a necessidade de consulta prévia e informada sobre os interesses nas áreas a serem ocupadas e atingidas pelo empreendimento. O município em que se situam as seis populações tradicionais estudadas, fora inundado para a construção da Usina Hidrelétrica de Itaparica, em 1988, e reconstruído para abrigar todo o coletivo realocado compulsoriamente pelo empreendimento. Em 2019, o Estado brasileiro confirma que na “nova” Itacuruba se instalará um complexo energético com envergadura para 06 reatores nucleares e capacidade total de 6.600 MWe. A projeção de uma central nuclear no Nordeste brasileiro não é um fato isolado e localizado, pelo contrário, envolve uma série de elementos, atores, instituições e conflitos que permeiam diferentes níveis e contextos de poder, do local ao global. O cenário atual aponta para a consolidação de uma política nuclear que a apresenta como a fonte de energia do futuro, considerando fatores como a importância militar da tecnologia nuclear e a sua sofisticação. Tais parâmetros explicam a consolidação de um setor nuclear no país e a preferência por essa fonte energética. Diante desse contexto, os povos tradicionais de Itacuruba têm elencado uma série de enfrentamentos no intuito de assegurar a proteção de suas territorialidades específicas frente à instalação do complexo nuclear no Rio São Francisco, configurando um repertório de ações coletivas e confrontos políticos na região do Sertão pernambucano. A opção metodológica de entender tal questão a partir dos povos tradicionais foi, justamente, a possibilidade de elencar uma construção argumentativa que não faça tábula rasa diante do projeto da Central Nuclear do Nordeste. E, nessa direção, fazer uma análise cientificamente consistente é considerar que as questões sociais e ambientais no entorno deste megaprojeto deve estar em pé de igualdade com fatores técnicos e econômicos no próprio processo de planejamento. A pesquisa seguiu na direção de problematizar um campo social em que é possível visualizar o acirramento de políticas governamentais que impulsionam a implantação de megaprojetos, ameaçam os direitos conquistados dos povos e comunidades tradicionais e impactam o meio ambiente em escalas sem precedentes.