“Marcas (In)Visíveis” : a dinâmica rememorativa-imaginativa na (re)construção do self dialógico dos adolescentes que praticaram autolesão

A presente dissertação utilizou os pressupostos teórico-metodológicos da Psicologia Cultural de Dinâmica Semiótica para investigar o processo de construção de significados de si (Self Dialógico – SD) referentes ao início e fim do uso da autolesão em adolescentes, destacando nesse processo, o papel d...

Full description

Main Author: AGUIAR, Mariana Bentzen
Other Authors: LYRA, Maria da Conceição Diniz Pereira de
Format: masterThesis
Language: por
Published: Universidade Federal de Pernambuco 2020
Subjects:
Online Access: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/38070
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Summary: A presente dissertação utilizou os pressupostos teórico-metodológicos da Psicologia Cultural de Dinâmica Semiótica para investigar o processo de construção de significados de si (Self Dialógico – SD) referentes ao início e fim do uso da autolesão em adolescentes, destacando nesse processo, o papel da rememoração e da imaginação atreladas ao SD na construção da trajetória de vida desses sujeitos. Estudou-se o processo de mudança psicológica do SD através da perspectiva dialógica e das funções psicológicas superiores (imaginação-rememoração) que o assessoram epossibilitama continuidade, ou descontinuidade, das posições do eu. Ademais, compreendemos os participantes como construtores de signos que se constituem em uma separação inclusiva com a cultura. A fim de captar tais processos, combinaram-se métodos qualitativos de base ideográfica para a construção dos dados: entrevistas longitudinais semiestruturadas, apresentação de vídeo e um experimento de apagar frases. Todos os dados foram utilizados para (1) a construção da trajetória de vida de cada participante inspirada na abordagem de equifinalidade de trajetórias (TrajectoryEquifinality Approach) e nas Avenidas de Significações Dirigidas (ADMs); (2) o exame das posições do eu (através do mapeamento do agente, objeto, audiências, domínio relacional e posição do eu) atreladas aos pontos de inícios e fim da autolesão destacados na trajetória – explorou-se também as esferas de experiências nela encontradas; (3) a investigação da dinâmica de transformação das posições do eu levantadas através do estudo dos processos imaginativos e rememorativos e da negociação entre a cultura pessoal e cultura coletiva, e, portanto, ancorados na unidade quadrática proposta por Valsiner. Ademais, destacaram-se as rupturas e transições, bem como os reguladores semióticos catalizadores, inibidores e promotores. Participaram do estudo 2 adolescentes (12 a 18 anos) que estavam em atendimento psicoterápico e tinham tido experiências de autolesão, mas que essas já houvessem cessado. Através da análise dos dados construídos percebemos que, com a hierarquização estereotipada das posições do eu – ou a exacerbação do falso self, numa linguagem Winnicottiana –, o movimento do SD em direção ao que chamamos de sua realização estética fica comprometido. Sem conseguir construir novos sentidos para si, articular diálogos entre as posições do eu (devido a hierarquias fixas e o silenciamento de outras vozes pela posição do eu dominante) o mal-estar psíquico parece advir. Esse acaba sendo demarcado no corpo através do ato autolesivo. Como a cristalização dos sentidos de si se dá na negociação do sujeito com a sociedade, assim, a autolesão surge como um signo ofertado pelo sujeito a esse outro: uma mensagem ou demanda de aceitação do seu eu por completo (multifacetado, com uma hierarquização flexível e com múltiplas vozes em diálogo). O fim do padecimento psíquico e dos atos autolesivos ocorreu através da destruição dos sentidos anteriores (dicotômicos) em uma síntese resultante da experiência do sublime – dos sentidos de si e dos sentidos conferido à autolesão. Essa síntese, por sua vez, só se torna possível a partir da emergência de novas ADMs – seja através do auxílio de reguladores semióticos catalíticos identificados ou não. Assim, a relação sujeito<>objeto (gegenstand) /outros sociais se modifica no decorrer do tempo ontológico.